“Orientação sexual” e “identidade de gênero” eram tópicos em uma apostila para alunos do 6º ano no Colégio Santo Agostinho, escola privada tradicional de Belo Horizonte. As diferenças entre homens e mulheres são culturais, discorre o texto, e o desejo é uma “escolha pessoal”, que “permite viver a sexualidade de forma prazerosa e saudável”. “Não existem comportamentos ‘normais’, e, por essa razão, a homossexualidade e a bissexualidade não são doenças e desvios.”
A filha de Elder Diniz recebeu o livro no início de 2017, para o descontentamento de seu pai. “Vincular orientação sexual a formas de prazer não é apropriado para a faixa etária de 11 anos”, afirmou o administrador de empresas, de 52 anos. “O mais apropriado seria salientar família e relacionamentos, com uma consideração de respeito.” Os pais do colégio se uniram, coletaram 120 assinaturas e se queixaram à direção. Os diretores responderam com a insinuação de que havia certo “pânico social” em reação à apostila e que ensinar igualdade de gênero e tolerância era essencial.
A tréplica veio por meio de uma notificação extrajudicial, com ameaças de responsabilização da escola e dos professores por danos morais. O colégio finalmente recuou e disse que o conteúdo não seria ensinado em sala de aula. “Foi aí que começamos a notar textos com muitas referências a questões homoafetivas, fazendo apologia à Revolução Russa, ao marxismo, com viés político à esquerda”, disse Diniz. O grupo de pais passou a supervisionar e denunciar essas inclinações esquerdistas via WhatsApp. Mais que isso, a vigilância se expandiu para outras cinco escolas de Belo Horizonte: Loyola, Santa Maria, Magnum, Fundação Torino e Santa Doroteia.
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